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As calçadas estreitas e irregulares de Aracaju e as limitações da arborização urbana

Antonino Campos de Lima – Engenheiro Agrônomo

Os projetos urbanísticos de Aracaju infelizmente nunca contemplaram com eficácia os passeios (calçadas) da cidade.
Desde os primórdios da mudança da capital já ao descer a colina do Santo Antônio em direção a zona sul, Aracaju sempre relegou os seus passeios públicos a plano secundário. O tão comentado “Quadrado de Pirro”, seu primeiro plano urbanístico, privilegiou os lotes do centro histórico da cidade com quintais de 50 m, mas, esqueceu-se de reservar espaço adequado para as calçadas, com raríssimas exceções, como foi o caso da Av.Barão de Maruim e pouquíssimas outras. Na sua maioria as ruas e avenidas de Aracaju, além de possuírem calçadas extremamente estreitas, com limitado recuo de edificações, permitiram que cada morador construísse seu passeio, o que ocasionou o absurdo que infelizmente assistimos com calçadas estreitas, extremamente irregulares dificultando a mobilidade do pedestre. Cada proprietário urbano cuidou da sua calçada sem a necessária preocupação com os usuários dos passeios, os deficientes visuais, os cadeirantes, as pessoas idosas, as crianças, enfim, da forma que melhor entendesse.
Com o crescimento da cidade, o trânsito urbano tornou-se cada vez mais intenso. Com isso, o pedestre não pode descer do passeio para contornar os enormes e incontáveis obstáculos que as calçadas apresentam, correndo risco de atropelamento. Muitas vezes, o pedestre, simplesmente deixa de transitar em determinadas ruas por absoluta falta de acessibilidade.
A qualidade de vida de uma cidade mede-se, pela sua acessibilidade e pela qualidade da sua arborização dentre outros critérios.
Como arborizar uma cidade que limita seus passeios a 1,50 m e ainda permite em tão limitado espaço que a árvore possa conviver com: fachadas de edificações sem o recuo obrigatório, enormes postes de concreto nos passeios, lixeiras, piso tátil, rede elétrica e telefônica, limitando seu espaço aéreo, tudo isso sem levar em consideração a necessária permeabilidade do solo e o espaço mínimo de convivência da árvore que para cumprir sua mais importante finalidade teria que possuir fuste e copa compatíveis.  
Diante das considerações apresentadas entendemos que é chegado o momento do poder público e a sociedade civil se mobilizarem no intuito de exigir do PDDU, que está em fase de aprovação na Câmara Municipal de Aracaju, uma nova postura com relação aos passeios da nossa cidade.
A AEASE (Associação de Engenheiros Agrônomos) e o CREA promoveram em 2011 um Seminário sobre Arborização Urbana que culminou com a elaboração da Carta de Aracaju, que tinha como objetivo maior sensibilizar o poder público para melhor entender as questões da arborização urbana e entre as suas recomendações a carta enfatizava a necessidade de dotar a cidade, principalmente nas suas novas edificações e áreas de expansão de calçadas mais largas que permitissem livre acesso para os pedestres.

Carta de Aracaju – Item 24:
24. Que faça constar do PDDUS, no Código Municipal de Obras e Edificações, Cap II, Das Calçadas e Vedações, pág. 27, que as calçadas deverão ter uma largura suficiente para comportar o acesso confortável do pedestre e o recuo da fachada da edificação e um espaço nunca inferior a 1,00m., para implantação da arboricultura, perfazendo uma largura total mínima de 3,00m., contribuindo para melhorar ainda a permeabilidade do solo e permitindo uma melhor convivência da arborização com as redes de serviços de permissão púbica...
Ou seja:
“Que as calçadas possuam uma largura suficiente para comportar o acesso confortável do pedestre, (faixas de acesso ás edificações), inclusive de deficientes visuais (piso tátil), uma faixa livre para circulação e um espaço nunca inferior a 1,00m, para implantação da arboricultura e do mobiliário urbano, perfazendo uma largura total mínima de 3,00m.”.

Atualmente a Prefeitura Municipal de Aracaju conta com um Comitê Consultivo de Arborização composto por técnicos de Instituições que tratam dessa área e que apesar de recente tem dado uma excelente contribuição ao município. Outra preocupação importante é a introdução de essências arbóreas adequadas na arborização de Aracaju e para tanto, o Comitê vem acompanhando os serviços de plantio de novas árvores na cidade.
Países desenvolvidos como Canadá, EUA têm o privilégio de contar com uma arborização mais compacta e de melhor qualidade, pois, apresentam passeios livres com larguras superiores a 6,0 m, além de toda sua fiação está totalmente implantada no subsolo, possibilitando o plantio de essências arbóreas de porte maior contribuindo para sustentabilidade socioambiental das cidades.