Desde a minha adolescência,
sempre fui fascinado pela literatura medieval ou quinhentista (1561/1627).
A Escola Gongórica,
capitaneada por Luis de Góngora e Argote, intelectual espanhol da Idade Média,
que liderou o estilo que valorizava a forma de redação, em detrimento do seu
fundo, nos induziu a sua apreciação pela riqueza de vocábulos.
Góngora em suas incursões
linguísticas transbordava conhecimento utilizando figuras metafóricas, às vezes
hiperbólicas ou prosopopeias, sem a mínima preocupação com o real significado
do texto.
Ao longo das minhas modestas
andanças pela seara literária vieram-me à mente, trechos de memoráveis
discursos proferidos pelo colega Engenheiro Agrônomo Altenides Caldeira Moreau,
na Escola Agronômica da Bahia, localizada em Cruz das Almas, ainda na década de
sessenta quando cursávamos Agronomia. Moreau esbanjava a verborreia em frases
memoráveis, como: “Os homens se contendem pelas protuberâncias conexas da
apologética.”
Outros não tão gongóricos,
diria, mais para “Barroco Científico” nos brindou Euclides da Cunha (1866-1909)
em sua obra prima Os Sertões, onde Euclides, um militar e republicano polêmico,
recrimina o ufanismo exacerbado da sociedade brasileira da época. Nessa fase
sua obra deu início a um período literário cognominado Pré-Modernismo. Euclides
dividiu sua obra, Os Sertões, uma narrativa poderosa do conflito histórico da
Guerra de Canudos, em três partes: A Terra, O Homem e A Luta. Referindo-se ao Homem, assim descreve Euclides: “O sertanejo é, antes de tudo um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral”.
Na minha passagem por Cruz das Almas, nos idos de sessenta, ainda jovem e cursando o 3º ano científico no Colégio Alberto Torres, tive o privilégio de conhecer o Professor Floriano Mendonça, que lecionava Português no colégio e Entomologia na Escola Agronômica e naquela oportunidade tentei exercitar um final de texto próximo, não exatamente ao gongórico, mas para barroco científico. Certa feita, no transcorrer das aulas de português, o professor nos desafiou ao passar para a classe um trabalho sobre o Poeta Castro Alves, como já conhecia suas obras geniais, embora superficialmente, debrucei-me sobre o porão do “Navio Negreiro” e mergulhei nas “Espumas Flutuantes” e após redigir uma folha inteira de papel pautado, conclui a dissertação, enaltecendo o poeta, dessa forma:
Hoje, no lúgubre Campo Santo, limitado
a um tétrico sarcófago, seus despojos jazem. O transpasse paralisou a matéria,
todavia a sua magnifica verbi o imortalizou.
Feneceu o homem!
O poeta vive!
O fato me valeu uma nota máxima e certamente me foi também útil no julgamento da prova de português do meu vestibular, sem contar com o prestígio obtido e inegavelmente importante, com o querido mestre nas notas da disciplina Entomologia Agrícola do curso universitário da Escola Agronômica da Bahia.
Retornando a um aparente formato de gongorismo plebeu e na verdade, corroborando com que costumava repetir o primo Euler Pizzi, de saudosa memória: “No cotidiano da nossa existência, não há nada como não resta dúvida e assim como são as pessoas, são todas as criaturas. Afinal de contas, nessa vida, invariavelmente, tudo é lucro, é só não cair no artigo, nem proceder”.
Antonino Campos de
Lima.