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O manjogome


Uma planta invasora consumida em Sergipe, como Planta Alimentícia Não Convencional (PANC),  também conhecida popularmente como  “língua de vaca”, ou “efó”, na Bahia, em Pernambuco como Maria-gorda, no Pará como caruru, em Minas gerais como beldroega-grande, além de cariru,  lustrosa-grande e  erva-gorda em outras localidades,  embora muito comum em todo o território brasileiro.
Cognominada de manjogome em Sergipe, pelo fato de que na Campanha de Canudos (1896 / 97), no tempo de Antônio Conselheiro, uma volante comandada pelo Major Gomes, na época Capitão Gomes Carneiro, perdeu-se na caatinga e seus comandados estavam prestes a morrer de fome, quando o Major descobriu essa planta nativa e fez uma enorme panelada alimentando os seus comandados. Como os soldados não sabiam o nome da planta batizaram-na de “planta-do-major-gomes” que, com o passar do tempo, por corruptela de linguagem passou a ser conhecida por “manjogome”.
Essa planta herbácea, (40-60 cm), carnosa glabra, de folhas simples, curto-pecioladas  e flores com inflorescências racemosas terminais e axilares, de coloração  rósea  é nativa do Brasil.
Trata-se de um vegetal consumido como prato típico em quase todo o Norte e Nordeste do Brasil e bastante apreciado pela população dessas regiões.  Na Amazônia é cultivada como hortaliça e no interior de Sergipe é bastante consumido, principalmente  quando preparado com coco sob forma de moqueca.
Suas folhas e talos, em outras regiões são também cozidos com feijão e como substituto do espinafre em muitos outros pratos como: pão verde, patê com ricota, como recheio de pasteis e massas, com tapioca, torradas e biscoitos, refogado com linguiças, com ovos cozidos, entre inúmeras outras formas de consumo (Kinupp, Lorenzi, 2014).*
Na medicina popular é bastante usada para combater anemia. Possui ácido fólico, mucilagens, pigmentos, sais minerais, taninos e propriedades medicinais, como: antiescorbútica, béquica, cicatrizante, calicida, diurética, depurativa e emenagógica,  indicada para: afecções da pele, calos, corte, debilidade orgânica, edemas, escorbuto, neurastenia, fraqueza em geral, infecções intestinais, inflamações  tópicas e problemas gastrintestinais (Braga,R.C, 2010). **
A análise química da matéria seca de folhas e ramos  do manjogome ou cariru, como é conhecido na Regiâo Norte, revelou através de pesquisas realizadas pela Embrapa (CPAA) Manaus, um enorme potencial de minerais importantes para a saúde como: pró-vitamina A, Vit.B², B³, C, além de sais de Cálcio, Potássio, Fósforo, Magnésio, Enxofre, Cobre, Manganês, Sódio, Zinco e  Fluor, sob forma de fluoreto (Cardoso,M.O.,1997).


Nome Popular: manjogome, maria-gorda, cariru, joão-gomes, lustrosa.
Nome Cientifíco: Talinum triangulare  (Jacq.) Wild.
Família:  Talinaceae ( Ex-Portulacaceae)


* Kinupp, Valdely, Ferreira, Lorenzi, Harri.: Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil :guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas Instituto Plantarum de Estudos da Flora, Nova Odessa, SP, 2006.p.441. 

** Disponível em: http://www.plantamed.com.br/plantaservas/especies/Talinum_paniculatum.htm, acessado em 17/03/2019

A moringa

Uma árvore caducifólia, de 7-10m de altura, conhecida como planta-milagrosa, é um vegetal exótico originário da Índia e da África, de tronco pardo-acinzentado, com ramos numerosos e folhas compostas tripinadas. Inflorescência em panículas axilares com flores brancas pentâmeras. Frutos longos parecidos com legumes ou vagens, medindo de 20-30cm de comprimento, de secção triangular, deiscentes, contendo sementes triangulares pretas e ricas em óleo e utilizadas até para purificação de água. (Lorenzi et al, 2003).*
Considerada milagrosa, por conter impressionante composição nutricional, medicinal, melífera, forrageira, purificadora de água, com aproveitamento desde as raízes até as sementes.
As sementes podem ser consumidas torradas ou cozidas. Suas raízes, de sabor picante, se assemelham muito a cenoura, e podem ser usadas na salada ou cozidas. As folhas frescas contêm nutrientes importantes em quantidades muito maiores do que os encontrados em outras plantas.  Possui sete vezes mais vitamina C que a laranja; dezessete vezes mais cálcio que o leite; dez vezes mais vitamina A que a cenoura; quinze vezes mais potássio que a banana; duas vezes mais proteína que o leite (cerca de 27% de proteína, equivalente à carne do boi); vinte e cinco vezes mais ferro que o espinafre. Casca, vagens, folhas, nozes, sementes, tubérculos, raízes e flores – são comestíveis. folhas podem ser usadas frescas ou secas, em refogados, sopas ou mesmo cruas, em saladas. Também podem ser usadas em chás e moídas, acrescentadas a receitas com farináceos, enriquecendo bolos e tortas. **
A moringa é também indicada como planta medicinal para regular a pressão arterial, controlar e prevenir diabetes, fortalecimento de músculos, aliviar dores, artrose e fibromialgia, manter cabelos e unhas mais saudáveis, tratar inflamações, fortalecer ossos, manter a disposição e o bom-humor e por ser uma boa fonte de proteínas, cálcio e ferro.  Suas folhas, raízes, flores e sementes possuem propriedades medicinais, antibacterianas, antioxidantes e mineralizantes e tem sido recomendada como antibiótico, anticancerígeno e anti-inflamatório, além de ser muito eficaz para as doenças dos rins, pâncreas, coração e dos olhos. ***
Suas sementes são ricas em óleo e utilizadas até para purificação de água, já que precipitam bactérias e sólidos em suspensão. Este efeito é resultante da sua composição em óleos e proteínas que se liberam quando as sementes são trituradas formando uma torta. Essa torta de sementes moídas é colocada na água, no fundo dos potes, e atrai a argila, sedimentos e bactérias, que ficam nela concentrados tornando a água limpa, clara e potável. O tratamento da água com torta de sementes remove até 99% da turbidez da água. ***
Além das inúmeras qualidades citadas, a moringueira é também uma excelente opção para produção de forragem, para aves, bovinos e outros animais pelo seu elevado teor proteico, pela precocidade de crescimento, resistência a seca e adaptação a vários tipos de solo, segundo Frederico Lisita e Raquel Soares, pesquisadores da Embrapa Pantanal, que , investigam o uso da moringa e da mandioca na fabricação de ração para criações de galinhas poedeiras do tipo caipira. Galinhas tratadas com a ração de moringa e mandioca mantiveram saúde e nutrição semelhantes às alimentadas apenas com milho e soja. Uma excelente alternativa para reduzir custos de ração. (Lisita, Soares 2017). ****
Além das inúmeras qualidades citadas, a moringueira é também uma excelente opção como planta melífera pela produção abundante de flores durante todo o ano e pela qualidade de seu néctar. Excelente alternativa para arborização urbana de calçadas estreitas em bairros populares pela versátil opção de seu uso como vegetal ornamental, melífero, forrageiro, alimentício e medicinal.

Nome popular : moringa, quiabo-de-quina, rabanete-de-cavalo, noz-do-bem
Nome Cientifíco: Moringa oleífera Lam.
Família: Moringaceae

* Lorenzi, Harri et al.: Árvores Exóticas no Brasil ( madeireiras, ornamentais e aromáticas) Instituto Plantarum de Estudos da Flora, Nova Odessa, SP, 2003.p.257.
*** Disponível em: https://www.saudebusiness365.com.br/moringa-oleifera-beneficios,  Acessado em: 30/12/2018


Os ipês-amarelos

Handroanthus chrysotrichus
Os ipês ou paus-d`arco são plantas da família Bignoniaceae, que no Brasil possuem cerca de 30 gêneros e 400 espécies. No caso dos ipês-amarelos, temos pelo menos 9 espécies conhecidas, todas dos gêneros Tabebuia ou Handroanthus, que apresentam muita semelhança entre sí, causando, de certa forma  dificuldade de identificação.
Handroanthus difere morfologicamente de Tabebuia, principalmente pelo cálice campanulado, geralmente 5-lobado, pelo tom da coloração da corola amarela, e pelos tricomas simples, estrelados, dendroides ou barbados nas estruturas vegetativas e reprodutivas (Santo, Fábio et al, 2014). ¹
Tabebuia aurea
A nossa conhecida craibeira (Tabebuia aurea), por exemplo, quando se apresenta fora do seu habitat mais comum que é a caatinga, ao se deslocar para a zona litorânea, muda seu fenótipo completamente. No bioma caatinga apresenta caule tortuoso, cascudo, folhas mais pubescentes, coriáceas, largas, arredondadas e menores, enquanto no litoral passa a ter folhas mais lisas, estreitas e maiores. Seu porte no habitat natural varia entre 4-6m de altura enquanto na zona litorânea pode atingir de 12-20m ou mais. A própria floração da craibeira-da-caatinga é bem mais abundante em função do estresse hídrico provocado pela escassez de chuvas na região.
Além desses aspectos há que se considerar que com o nome de ipê-amarelo temos cerca de nove espécies dos gêneros nativos Tabebuia e Handroanthus com características muito parecidas e portes diferenciados:
1.    Handroanthus albus - ipê-amarelo-de-serra (20-30m) Folhas c/ bordo serrilhado
2.    Handroanthus ocraceus - ipê-amarelo-do-campo (6-14m); F.c/bordo serrrilhado
3.    Handroanthus serratifolius - ipê-amarelo-ovo (8-20m); Folhas c/ bordo serrilhado
4.    Handroanthus riodocensis - ipê-amarelo-de-casca-sulcada (20-30m)
5.    Handroanthus chrysotrichus - ipê-amarelo-de-encosta- (4-10m) F. c/bordo liso.
6.    Tabebuia umbellata - ipê-amarelo-de-brejo (10-15m); Folhas c/bordo liso.
7.    Tabebuia vellosoi - ipê-amarelo-de-casca-lisa (15-25m); Folhas c/bordo crenado
8.    Tabebuia caraíba - caraibeira-do-norte (12-20m); Folhas com bordo liso
9.    Tabebuia aurea - craibeira-do-nordeste (4-24m). Folhas com bordo liso.
Todas essas espécies são bastante parecidas e variam conforme o porte e a sua constituição morfofisiológica e até de acordo com o habitat onde vegetam. Handroanthus chrysotrichus e H. ochraceus, por exemplo, podem ser diferenciadas das demais espécies pela ausência de tricomas dendroides no cálice. ¹
Handroanthus serratifolius
O Handroanthus riodocensis, também conhecido por Tabebuia riodocensis A. Gentry, (pau´darco-flor-de-algodão ou ipê-amarelo-de-casca-sulcada), uma espécie endêmica do Brasil, encontrada na Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo (Lohmann, 2012), até 200 m de altitude (Gentry, 1992), difere do Handroanthus serratifolius pela cor da sua corola mais escura quando seca, cálice mais glabro, por ocorrer em habitats diversos, entre outras características (Gentry, 1992). ²
A identificação precisa desses ipês-amarelos só é possível ser feita por especialistas ou mediante coleta de material botânico, com posterior estudo taxonômico.

¹ Disponivel em http://www.cncflora.jbrj.gov.br/portal/pt-br/profile/Handroanthus%20riodocensis .Acessado em 27 dezembro 2018.
² Santo, Fábio et al.: Flora da Bahia: Bignoniaceae 2 – Aliança Tabebuia, Bahia, 2014, p. 3.